sexta-feira, 4 de junho de 2010
V!
Após trinta anos só, ele apareceu ao meu redor. Não consegui explicar o que senti, mas instantaneamente tremi. Era a primeira vez que o via e senti uma imensa agonia. Não conseguia me controlar e sentia o cheiro de amor no ar. Ele passou reto e discreto; não ousou desviar o olhar, parecia nem ao menos me enxergar. Parei de sorrir, mas não iria desistir.
No dia seguinte, com um grande requinte, voltei ao mesmo local e ganhei várias cantadas pelo meu belíssimo visual. No banco da praça sentei e por ele eu esperei. Mais uma vez ele passou e sequer me notou. Pensei em ir ao seu encontro, mas juntamente com meu coração, minhas pernas gritaram um belo e sonoro NÃO! Não ousei discutir e fiquei por ali.
A cena se repetiu por vinte e nove dias de pura não-alegria. Não me incomodei, muito menos protestei. De férias e sem nada para fazer, aquilo era o melhor passatempo que não estava á mercê. Sem explicação e uma possível conclusão, sabia que meu tempo estava para acabar e que aquilo em nada iria dar.
No trigésimo dia, durante a brilhante luz do dia, fui me despedir de algo que nunca aconteceu ali. Relutante, sentei e pelo nada eu esperei. Ele voltou a passar e roubou três quartos do meu ar. Trajado elegantemente, parou em minha frente e sem licença pedir, sentou-se aqui. Estava curioso e de um modo rigoroso olhou-me insistentemente enquanto eu estava a pensar o que se passava em sua mente.
Sem mais delongas, ele disse-me que era cego e que seu pai mandou-o perguntar por quem eu tanto estava a esperar durante as férias inteiras naquele lugar. Não sabia o que responder, estava sem palavras para qualquer coisa dizer. Instintivamente me levantei e respondi-lhe friamente: "Eu não sei." Abandonei aquele lugar sem nem ao menos pensar, totalmente vermelha de vergonha, Haha.
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